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Como continuar quando o tempo congela para quem amamos?

É estranho como o corpo sente antes da mente entender. Acordei no meio da madrugada, gripada, exausta, e antes mesmo de abrir os olhos, meu instinto me fez buscar o Rafael ao meu lado. O espaço vazio na cama pareceu mais frio do que nunca, mas como se entendesse o que eu precisava, meu gato se aproximou, silencioso, e encostou o rostinho na minha mão. Animais são anjos – e às vezes, eles sabem coisas que nem nós conseguimos processar.

Talvez seja isso: meu corpo sabe que meu aniversário está chegando. Meu terceiro sem ele. O terceiro para mim, mas o quarto para todos os outros que o amavam. A mãe dele foi a primeira a sentir esse vazio, eu fui a última. A primeira e a última mulher da vida dele. É quase poético, se não fosse tão cruel.

E tem mais. Ele sempre falou sobre os 40. Sonhava com essa idade, fazia planos, imaginava como seria. E agora sou eu que chego lá. Eu sigo, enquanto ele ficou para sempre nos 39. O tempo continuou, mas para ele, congelou. Como se eu tivesse ultrapassado uma linha que ele nunca pôde cruzar.

Talvez seja isso que me quebra. Não o fato de envelhecer, mas a injustiça de fazer isso sem ele. A dor de ser a última com memórias novas, enquanto ele se torna parte de um passado que se distancia um pouco mais a cada ano.

Eu sei que seguir em frente não significa deixar para trás. Mas às vezes, continuar parece a parte mais difícil. E as fotos seguem se repetindo… 

Comentários

  1. Seguir em frente não é deixar pra trás. É isso. Leva ele na memória, sem peso. Prosseguir nunca é fácil, mas "continue a nadar" vc tá brilhando! E ele tá orgulhoso. Certeza!

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