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O Novo Amor e o Luto

O luto é uma montanha-russa emocional que não avisa a próxima curva. A gente não supera; a gente tenta coexistir. E muitas vezes, mesmo com o coração pulsando de saudade e memórias, é impossível escapar do peso das expectativas alheias: "Você precisa seguir em frente", eles dizem. Mas o que é seguir em frente quando cada esquina do mundo sussurra o nome do Rafael?

Eu sinto falta dele, das risadas, dos defeitos, até das pequenas chatices que eram só dele. Sinto falta do beijo de manhã, da alegria com o Natal. E sinto a ausência até onde ele nunca esteve – como na represa de Furnas, onde eu não pude deixar de pensar: Rafa ia amar esse lugar. Ele está em tudo, até nas músicas que ele nunca ouviu, fazendo parecer que ele nunca realmente foi embora. Mas, ao mesmo tempo, ele foi.

E aí vem o dilema. Amar de novo. Como? Como abrir espaço para outra pessoa sem sentir que estou diminuindo o espaço do Rafael? Como não deixar que o medo de parecer ingrata ou desleal para ele, ou até para mim mesma, me prenda nesse limbo? Porque, no fundo, o amor que eu sinto por ele é inegociável, imutável. Não tem como perder o que está gravado em mim.

E ninguém dá o passo a passo, não é? Os conselhos vêm como enigmas: "Siga seu coração". Mas como seguir quando ele está tão perdido? A verdade é que talvez eu não precise escolher entre o passado e o futuro. Não é sobre tirar o Rafael de onde ele está – porque ele já vive em mim. É sobre entender que o amor que eu dei a ele é eterno, mas o meu coração ainda pode pulsar, caber mais.

Não há traição em viver. Eu sou uma pessoa apaixonada, e isso é bonito. Isso é o que me faz especial. Amar de novo não é um apagar, é um recomeçar. Não um “em vez de”, mas um “além disso”. E se não fosse um problema achar o espaço certo? E se, em vez de respostas imediatas, eu apenas começasse a me permitir sentir?

A culpa, essa velha amiga do luto, é pesada demais para carregar sozinha. Ela me faz perguntar se estou sendo “escrota”, mas a verdade é que eu estou sendo humana. Estou tentando dar sentido ao que não tem sentido. Rafael não foi embora porque eu escolhi amar outra pessoa. E amar outra pessoa não fará ele ir embora do lugar que ele sempre terá em mim.

O luto não é um obstáculo a ser superado. É um companheiro de jornada. E com o tempo, ele deixa de gritar para apenas sussurrar. O amor, esse que transborda em mim, é maior do que qualquer regra ou culpa. Ele não diminui. Ele cresce. Como eu.

E talvez seja isso: não é sobre esquecer, substituir, ou seguir em frente como quem abandona. É sobre seguir com. Com a saudade, com as memórias, com o coração marcado — mas ainda capaz de bater por algo novo. 

Porque se tem uma coisa que o amor me ensinou, foi a não ter medo de sentir. Então hoje, eu não peço licença à dor, nem permissão à culpa.

Hoje, eu escolho viver. E isso… isso também é uma forma de honrar quem eu amei.

* Texto da madrugada… confuso como eu… rsrs

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