Pular para o conteúdo principal

6 meses

Morrer é algo que me parece tão surreal... (ainda que seja a coisa mais natural da vida).

É estranho como num momento a pessoa pode estar aqui com você, dividindo uma refeição ou um carinho, rindo, cheia de alegria e vida e no outro é "apenas" um corpo frio. 


Isso é algo que ainda é difícil pra eu entender. Essa brusca interrupção é um solavanco que abala todas as concepções de vida e crenças que a gente tem.

Seis meses se passaram e eu ainda me vejo parada no mesmo lugar. Numa curva, numa manhã de sol. Eu às vezes consigo caminhar e me afastar um pouco daquele lugar, mas quando fecho os olhos estou de novo -  no mesmo lugar. 

Seis meses se passaram e a sensação é de que foi ontem. Eu ainda não consegui assimilar a vida como ela é agora. Embora eu viva essa vida, todos os dias. Eu trabalho, eu como, eu durmo, eu saio com minhas amigas, gargalho muito, falamos de planos e sonhos, de viagens. Mas quando eu volto pra casa, no final do dia, no silêncio do meu quarto quando as luzes se apagam... é sempre a mesma coisa, as mesmas lembranças, a mesma dor, o mesmo vazio. 

É como se eu nadasse, nadasse e nadasse muito, com todas as minhas forças pra me manter na superfície, mas algo sempre me puxasse pro fundo, para aqueles dias coloridos e leves, para aquela vida que eu acreditei que seria minha pra sempre, pro paraíso que eu havia conquistado e que me parecia tão natural tomar posse.

Seis meses se passaram e eu ainda olho os casais na rua com dor no meu coração.

Como se fossem uma lembrança escancarada do que eu não tenho mais: mãos dadas e os sorrisos cúmplices.

E cada dia que passa, como um vidro sujo que vai sendo limpado, eu vejo tudo que perdi. Não que eu não soubesse no dia - eu sempre soube o quão especial e mágica era minha relação, o quão abençoada eu era, o quanto ele era incrível - mas com o passar do tempo e o pensamento constante, as memórias dos dias incríveis vão ficando ainda mais vivas dentro de mim. 

Se posso dizer alguma coisa pra você que está lendo é: aproveite o momento. Se entregue ao momento. Viva. O que realmente levamos dessa vida não cabe em caixas ou depósitos, não podemos guardar em bancos. O que levamos dessa vida é apenas o que tá no coração. É aquilo que vemos quando fechamos os olhos. É aquele cheiro que te entorpece a alma. 

É isso que levamos dessa vida. É isso que deixamos nessa vida. 

E é isso que nos mantém vivos nas pessoas que amamos.

Comentários

  1. 🖤e em todos os momentos...em todos ja vividos, todos q estamos vivendo e todos q viveremos vc Rafa sempre estará conosco! Vc é o anjo q nos mostrou e mostra como cada momento vivido é importante♡♡♡ te amo my brother♡♡

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Fala comigo:

Mais Vistas

Desabafo... querido diário

Tá todo mundo me perguntando se eu tô bem hoje. E, no automático, eu respondo: tô bem. Bem… rsrs… o que é estar bem de verdade? Porque a sensação que eu tenho é que ninguém nunca está bem. A gente se acostuma com as pancadas da vida, com as inconstâncias da vida. A vida te dá e também te rouba, a vida faz florescer e morrer. E a gente se acostuma com esse movimento. Se isso for estar bem, compreender o vai e vem, eu tô bem. Não sei dizer se aprendi a lidar com a saudade. Não sei dizer se me acostumei ou se efetivamente cresci ao redor dela. Sinto que, nos últimos 30 dias, não faço nada além de sentir. Sentir profundamente a perda, sentir e lembrar. Até nisso você deu um jeito de ser intenso, não é? Me deixou 30 dias para lembrar e sofrer tudo de uma vez. Bom que consigo ser mais produtiva ao longo do ano… hahahaha… você entenderia essa piada. Dizem que a vida é nascer, casar e morrer … Em 30 dias, eu revivo esse ciclo inteiro, com as festas de final de ano no meio e toda a ausência qu...

O Brasil não tem cultura?

Ouvimos isso o tempo todo. Fruto de um velho e cansado complexo de vira-latas, essa ideia de que somos um país menor, sem arte, sem cinema, sem grandeza. Como se o Brasil não tivesse sua própria voz, como se nossa cultura fosse apenas um reflexo pálido de outras, sem brilho próprio. Mas basta olhar com atenção para ver: o Brasil não apenas tem cultura, o Brasil É cultura. Se não tivéssemos cinema, O Pagador de Promessas não teria cruzado o mundo com sua fé e tragédia, conquistando Cannes. Cidade de Deus não teria feito a indústria cinematográfica mundial tremer diante de sua estética feroz. Central do Brasil não teria levado nossa alma para a tela, emocionando o Oscar e eternizando Fernanda Montenegro como uma das maiores atrizes da história. Se não tivéssemos música, João Gilberto não teria reinventado o tempo com sua bossa, Cartola não teria pintado nossa tristeza com poesia, o funk não teria feito o mundo abaixar até o chão. Se não tivéssemos literatura, Machado não teria dissecado ...

Amor de domingo

É gostoso ser desejada, claro que é.  Ter gente te querendo, te olhando como se você fosse mágica em forma de mulher. Tem seu charme a liberdade, o frio na barriga de conhecer alguém novo, as noites imprevisíveis. Mas, no fundo, o que eu queria mesmo… era um amor de domingo. Porque o amor de domingo é diferente. Pro amor de domingo eu não preciso de salto alto e batom vermelho — só a camiseta dele e os pés descalços. Amor de domingo não precisa de cenário: o sofá bagunçado, a pia com duas xícaras e o cheiro de café com bolo já bastam. O amor de sábado é puro fogo. Ele invade. Ele te vira do avesso. É risada alta em bar lotado, é pele na pele, é desejo que não espera. O amor de sábado é suor, vinho derramado, sexo com urgência. Ele não pergunta se pode entrar — ele arromba a porta. Mas o amor de domingo... ah, o amor de domingo bate na porta e traz pão quentinho. Ele te olha com calma, escuta cada detalhe bobo do seu dia e ri junto de coisas que nem têm tanta graça assim. Ele te ama...