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Mãos Cheias de Saudade (28/12/2024)

Hoje, eu escrevo com o coração em pedaços e as mãos cheias de saudade. São 11 anos desde o dia em que dissemos “sim” um ao outro. Onze anos de um casamento que prometia ser o início de um felizes para sempre. Mas a nossa história foi interrompida. De forma abrupta, cruel, sem sentido. E por mais que eu tente, nunca vou entender. 

Rafael, se você estivesse aqui, estaríamos celebrando hoje. Eu consigo imaginar o seu sorriso, aquele meio torto, safado, que me fazia rir sem esforço. A gente abriria uma garrafa de vinho, brindaria aos nossos sonhos e provavelmente discutiríamos sobre as reformas da casa que ainda não terminamos. Você amava planejar, sonhar grande – nossos 90 anos estavam desenhados nas longas caminhadas que fazíamos pra sonhar com o mundo todo que queríamos conhecer. 

Mas aqui estou eu, com as mãos vazias, segurando todos os planos que não aconteceram. De olhos fechados vendo o seu olhar, seus gestos e ouvindo a sua risada barulhenta. 

O amor que você deixou é tão imenso que se espalha por cada canto dessa minha vida... que continua... mesmo sem você. 

A verdade é que a gente merecia mais. A gente merecia ver nossos netos correndo pela varanda enquanto tomávamos café, cada um com seus cabelos brancos e rugas que contaríamos com orgulho. A gente merecia estar lado a lado nos casamentos das nossas filhas, você chorando escondido e eu apertando sua mão. Merecíamos as viagens planejadas no papel e os dias preguiçosos de chuva, deitados no sofá sem pressa. A gente merecia ver nossa casa pronta, tijolo por tijolo, do jeitinho que a gente queria. 

Mas a nossa história não teve mais páginas. O livro ficou em branco depois daquele domingo. E eu nunca vou conseguir aceitar isso. Nunca vou entender o porquê. 

Mesmo assim, hoje eu escolho lembrar de nós colorido. Da alegria que você trouxe para a minha vida, da forma como você transformou a simplicidade em poesia. Da força que você me deu e que, de alguma forma, me ajuda a seguir, mesmo sem você aqui. 

Rafael, eu amo você. Não apenas pelo que tivemos, mas pelo que continuamos sendo. Pelos sonhos que ficaram, pelas marcas que você deixou, pela saudade que nunca vai embora, mas me lembra que o amor, ah, o amor é eterno. 

"Eu quero ser lembrada com você. E isso não é problema de ninguém."

Se fosse possível, eu escreveria mais capítulos. Páginas e mais páginas da gente, só para ver onde o nosso felizes para sempre poderia nos levar. Mas, já que não posso, sigo escrevendo capítulos e capítulos de mim, honrando sua alegria e sua força. Gargalho alto, cada vez mais alto, brindando à vida que você tanto amou, celebrando os momentos que ainda tenho como você faria: com intensidade, com coragem, com gratidão. Porque mesmo sem você aqui, eu levo adiante a essência do que fomos, transformando saudade em força e amor em movimento.


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