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Mostrando postagens de outubro, 2025

Contrassenso (29/10/25)

Desde a hora em que acordei, rolo de um lado pro outro na cama. Inquieta.  Procurando o calor que estava aqui e não está mais mas deixou marca em tudo. No ar que me falta, lembrando das suas mãos. Na voz que surge, de repente, dentro da minha cabeça, dizendo:  “eu tive uma ideia.” E eu rio, sozinha  não pelo que você disse, mas como disse e o que significa. Porque às vezes é isso que a saudade faz: não devolve a pessoa, mas devolve o gesto, o tom, o jeito. O lençol ainda guarda o desenho do seu corpo, como se o tecido tivesse aprendido o contorno da sua ausência. E eu, tonta, continuo procurando o que sei que não está  mas que ficou em mim de algum outro jeito. Você é vício. É urgência. É calma. Um contrassenso que me desorganiza e me centra  ao mesmo tempo. Me quebra e me conserta…  tantas vezes… que já nem consigo contar. Talvez amar seja isso: aceitar ser ruína e reconstrução no mesmo abraço. Entender que algumas presenças, mesmo quando partem, ficam...

A calma que arde (20/10/25)

Tem algo novo acontecendo dentro de mim. Não explode. Não atropela. Não pede socorro. Só pulsa… com uma calma aquietante mas com uma intensidade que há muito tempo eu não sentia.  É como se, depois de tanto tempo anestesiada, eu tivesse finalmente reencontrado um sentir que é só meu.  E ele pulsa.  Com presença, com leveza, com coragem.  E, contrariando o senso comum,  o mais bonito disso tudo  é que esse sentimento não me sequestrou ele me devolveu pra mim. Não me interessa se durará uma semana ou uma década.  Não estou calculando as possibilidades de queda, nem construindo um plano de fuga.  Só estou mergulhando... de olhos fechados.  E se doer?  Bom… Pelo menos eu senti.  Porque… tem algo nele que me dá paz.  Me traz de volta pra casa. Me devolve pra mim. Não é paz de promessa eterna.  Mas paz de presença verdadeira.  Não sei se é o jeito que ele me escuta.  Ou o modo como ele não finge nada.  Só sei...

Flores que nascem no entulho (11/10/25)

Hoje percebi que meus passos já conhecem rotas que eu nem planejo.  Nos cantos da memória, cães latem lembranças: vozes e risos que desapareceram. Mas aprendi a caminhar com o silêncio ao meu lado a escutá-lo sem medo, sem pressa. Dói, sim como um espinho em carne viva  mas também me ensina quem eu sou quando nada mais resta para me definir. Cultivei uma nova intimidade comigo: acordar sem buscar outro olhar, dormir sem esperar abraço, escrever sem esperar aplauso. Porque há vida no que resta.  E quando menos se espera… flores nascem no entulho da perda. E embora ferida, sigo inteira pois cada gemido que escapa é um ato de liberdade. Meu presente é nossa respiração: lenta, ofegante, orgulhosa. E é por ela que eu existo  hoje, com todas as minhas cicatrizes.

16/02/25