Pular para o conteúdo principal

Perder (24/10/07)

Não existe nada pior do que o gosto do fracasso. É amargo, ácido, gruda na língua, infecta a garganta, demora a ser engolido, digerido, esquecido... Ele faz com que a "coisa" perdida seja colocada em um pedestal intocável, dá a ela valor inestimável, torna seu sabor insubstituível, faz dela algo insubstituível...
Perder.
Tão natural quanto respirar. Mas nos enfraquece e desencoraja tão rapidamente, tira as certezas, nos confunde. Perder nos torna incopetentes, carentes, desperta as piores sensações.
E tentamos "por banca" de não estar sentindo nada, de "eu nem queria mesmo"... despeito, dor de cotovelo. Qdo na verdade deveríamos velar o difunto, enterrá-lo, ou cremá-lo, (prefiro cremar, encerra definitivamente)... deveríamos curtir o luto, vivenciar a perda em todos os seus bons e maus aspectos. Analisar todos os erros cometidos, refazer a tragetória, entender o pq do fim... Levar algumas flores ao túmulo, ou observar a a urna cheia, até finalmente derramar as últimas lágrimas, jogar as últimas flores, espalhar as cinzas no vento, e deixar esse vento limpar sua alma... levar todas as dores, arrependimentos, ressentimentos, para poder seguir com o aprendizado guardado, sem mágoas, sem nenhum tipo de sentimento.
E quando chegamos nesse estágio, ai sim, estamos prontos para ver brotar o novo, para cultivar o novo, para viver o novo...

Comentários

Mais Vistas

A falta de controle

Você já parou pra pensar como a vida muda seu curso em um segundo? Do mais absoluto NADA. Um instante antes você está dentro da rotina, acreditando que tem um roteiro em mãos, que sabe a próxima cena. E, de repente, sem aviso, sem preparação: BOOMM! Tudo se desfaz. Você precisa recomeçar, refazer, assimilar… do nada. Um acidente, um adeus, uma doença. Do nada. E é aí que a vida nos revela sua crueldade e sua beleza: ela não pede licença, não dá prévia, não negocia. Ela simplesmente acontece. E, ainda assim, a gente insiste em acreditar que tem controle… e sofre pela ausência dele, como se essa ausência fosse falha, quando na verdade é a regra do jogo. A falta de controle é a lembrança mais cruel e mais bela da existência. Cruel porque nos arranca a ilusão de sermos donos do tempo, dos outros, até de nós mesmos. Bela porque, ao despir-nos dessa ilusão, nos devolve a verdade mais antiga: tudo é instante.  Heráclito já dizia que “ninguém entra duas vezes no mesmo rio, porque as águas ...

Nuances (19/11/2025)

Era só um sopro. Um toque leve, quase tímido, desses que atravessam a pele sem pedir licença. Meu coração ainda andava devagar, como se estivesse tentando decifrar o que viria desse prelúdio doce, quente, que se instalou em mim sem pressa. Aos poucos, o ar mudou. A respiração ficou curta, o corpo começou a entender a linguagem secreta que só a gente fala. Cada centímetro virou gatilho, cada gesto virou centelha. E eu senti… o ritmo subindo como maré, a mente abrindo janelas, portas, mundos. Era informação demais, sensação demais, tudo vindo junto, sem ordem, sem lógica um caos delicioso, urgente, vivo. Como se eu fosse feita só de nervos expostos e desejo pulsando. Até que… de repente… o silêncio. Não um silêncio vazio. Um silêncio que acolhe. Um nada pleno, suspenso, onde a minha alma simplesmente se desprende do corpo e começa a dançar sobre nós. Ali, não tinha pensamento. Não tinha “eu”. Não tinha tempo. Só a explosão. O brilho. A entrega. O cheiro... o nosso cheiro invadindo o ar, ...

Nós (17/11/2025)

a gente é tão diferente e tão igual. Você é sistemático e organizado. Eu sou caótica e impulsiva. Você é contido e controlado. Eu sou uma explosão de fogo e vertigem. Mas a verdade é que dentro de você tem um vulcão,  um calor que cresce e queima tudo. Você é controverso, contraditório…  finge que não quer controlar, mas controla. Finge que não quer queimar e incendeia. E tem esse desejo secreto, nem tão secreto assim, pela minha rendição. E eu, que sempre fui escandalosa, dona de mim… me vejo sendo guiada, tomada, conduzida de um jeito que não me diminui me revela. É tão delicioso que assusta. Porque com você eu relaxo. Eu me rendo. Eu solto o peso do mundo sem culpa. Você me incendeia, me instiga, me tira da rota e ao mesmo tempo é brisa fresca. É clareza. É esse silêncio bom que abraça. É essa sensação de lar que eu achava que nunca mais ia sentir. E eu bagunço. Bagunço sua cama, sua rotina, sua vida meticulosamente dobrada. Te tiro do eixo, te faço sentir,  te faço pu...