Pular para o conteúdo principal

Um exército de amigos e um feliz 2023




“… nossos amigos irromperam em casa, entraram como a água de uma represa que se rompe, invadiram-na impelidos por toda a angústia que haviam sentido por terem sido mantidos distantes durante tanto tempo. E ocuparam nossa casa, acamparam na sala, dormiram nos sofás, se revezaram, prepararam comidas, agitaram remédios, foram ao mercado e à farmácia. E fizeram tudo isso para cuidar dele, para cuidar de mim, rodear-nos com seu carinho. E ficaram em casa e não foram embora até Pablo falecer, um exército de amigos em pé de guerra que conseguiu que aquela morte asquerosa também tivesse uma parte indescritivelmente bela.

Trecho do livro: A ridícula ideia de nunca mais te ver, de Rosa Montero.

Ganhei esse livro da prima do Rafael, ele me ajudou muito no processo do luto. Estou lendo pela terceira vez. Sinto como se conversasse com a Autora e com Marie, compartilhando, nos três, essa dor viva que é o luto. 

A cada leitura me deparo com um novo detalhe que não havia me tocado na leitura anterior, dessa vez, talvez pela época do ano, o detalhe que me tocou foi esse trecho…

Acho que eu jamais teria falado tão bem dos meus amigos. Jamais teria descrito com tamanha perfeição o que foram e fizeram por mim e minha filha quando do falecimento do Rafa. 

É engraçado como esses momentos asquerosos podem ainda assim trazer lindas lembranças. 

Como flores que nascem em pântanos. 

Eu agradeço demais a cada um desses amigos, pois sem essa luz, sem esse exército, nós jamais teríamos conseguido. 

E nesta virada de ano é isso que quero dizer: obrigada Deus por não ter me deixado desamparada no pior momento da minha vida. Obrigada pelos anjos que deixou a cuidar de mim. Obrigada por permitir que eles lutassem essa guerra comigo. 

Como no réveillon de 2021/2022 eu não vou pedir nada, não pq eu esteja feliz como estava naquele dia, me sentindo plena, realizada e completa. Mas pq aprendi esse ano que só uma coisa realmente importa: o hoje. O aqui e agora. Este momento único e mágico que temos e onde podemos realizar tudo. 

E este momento eu já tenho. E ele ninguém pode me tirar. 

Pro futuro? Venha o que vier. Farei de qualquer limão uma deliciosa limonada! 

Feliz 2023!!!

Comentários

Mais Vistas

Só um minuto (05/2025)

Queria pedir, sem alarde: Mundo, para. Só um minuto. Desliga os alertas, os prazos, os sons. Esquece os boletos, as mensagens não respondidas, os “tem que”. Só um minuto. Pra eu sentar. Respirar. Sentir meu próprio corpo sem correria. Ouvir meu pensamento sem ruído. Ficar quieta — sem culpa. Porque tem dias que viver parece atravessar correnteza. E tudo em mim grita por ar. Por pausa. Por um intervalo entre o caos e o próximo compromisso. Então, por favor... Mundo, só um minuto. Eu prometo que volto. Mais inteira. Mais eu.

Ep. 3 - Insistir é coragem ou é se perder?

POD Ficar Só Entre Nós? Há uma linha tênue entre coragem e teimosia, entre lutar por algo que vale a pena e se perder no abismo de uma relação sem reciprocidade. E quem nunca se perguntou: será que estou me expondo demais? Será que estou insistindo demais? Afinal, até onde vai a linha da autenticidade, e onde começa o terreno perigoso de se entregar sem retorno? Falam tanto sobre vulnerabilidade, como se fosse algo lindo, um ato heroico. E é. Mas ninguém avisa o que fazer quando a vulnerabilidade encontra o vazio, quando as palavras que deveriam acolher o que você sente simplesmente não chegam. Como lidar com a coragem de se abrir, sabendo que o risco é se despedaçar? E mais: como reunir os cacos quando isso acontece? A verdade é que ser autêntica é um ato revolucionário . Mostrar quem somos, o que sentimos, é desarmar-se num mundo onde todos estão com os escudos levantados. Mas ser autêntica não é despejar tudo de uma vez, nem se obrigar a ser transparente com quem não merece. Ser au...

Desabafo... querido diário

Tá todo mundo me perguntando se eu tô bem hoje. E, no automático, eu respondo: tô bem. Bem… rsrs… o que é estar bem de verdade? Porque a sensação que eu tenho é que ninguém nunca está bem. A gente se acostuma com as pancadas da vida, com as inconstâncias da vida. A vida te dá e também te rouba, a vida faz florescer e morrer. E a gente se acostuma com esse movimento. Se isso for estar bem, compreender o vai e vem, eu tô bem. Não sei dizer se aprendi a lidar com a saudade. Não sei dizer se me acostumei ou se efetivamente cresci ao redor dela. Sinto que, nos últimos 30 dias, não faço nada além de sentir. Sentir profundamente a perda, sentir e lembrar. Até nisso você deu um jeito de ser intenso, não é? Me deixou 30 dias para lembrar e sofrer tudo de uma vez. Bom que consigo ser mais produtiva ao longo do ano… hahahaha… você entenderia essa piada. Dizem que a vida é nascer, casar e morrer … Em 30 dias, eu revivo esse ciclo inteiro, com as festas de final de ano no meio e toda a ausência qu...