Pular para o conteúdo principal

Pequena

Ela gostava de ler. Gostava muito de ler. E a paixão por livros se transformou no sonho de ser escritora. 
Então ela começou a rabiscar em qualquer papel que via. Tudo era motivo para escrever, o jogo de futebol, as flores florindo em pleno inverno, a primavera que se aproximava. 
Tudo era razão para colocar no papel seus sentimentos e desejos. 

Mas por alguma razão desconhecida, um monstro sombrio invadiu seus dias de luz. Foi chegando de mansinho, sem que ela percebesse seus reais interesses, foi se aproximando e ela deixou que ele entrasse. Em sua doce mente, acreditava que suas palavras iluminariam seu coração escuro, e que sua imaginação mostraria para ele um mundo diferente. 

Entretanto ele trazia consigo muita dor e mágoa, e se alimentava da alegria que a pequena irradiava de si. Ele rondava seus sonhos transformando toda sua magia e imaginação em um fundo negro onde não havia mais como escrever ou colorir. Por onde passava as cores sumiam e as palavras reduziam-se a fezes entulhadas e fétidas.

A pequena acordava todos os dias com os olhos sem brilho, e seu mundo, de flores invernais, foi transformando-se num enorme vazio cinza. 

As pessoas que antes gostavam de ler aquelas pequenas letras juvenis, e que sentiam nelas esperança e fé, perderam o interesse pelas palavras vazias e sem calor, que agora machucavam os papéis. 

Parecia que o dom dela havia acabado. Será que ela havia gasto tudo aquilo que lhe tinham dado?

E cada vez que se forçava a escrever um pouco mais, a rabiscar outros papéis, na fé de que alguma coisa interessante dali iria sair... nada com sentindo se formava no final, tudo era frio e desinteressante.

E aquelas milhares de histórias que povoavam sua mente ficavam cada vez mais distantes e pareciam o sonho de outra pessoa, não dela. Não podiam ser dela. 
O lápis e a velha máquina de escrever, antes tão amigos, agora eram a constante lembrança de sua incapacidade. De sua falta de poder e possibilidades. 

O que poderia fazer agora?
Seus sonhos todos, tudo que podia ser... o que poderia fazer agora?
O monstro, que tudo lhe sugara já não se aproximava mais, pois já não havia mais o que sugar, o que roubar. Não haviam mais sonhos a matar.

Comentários

Mais Vistas

Só um minuto (05/2025)

Queria pedir, sem alarde: Mundo, para. Só um minuto. Desliga os alertas, os prazos, os sons. Esquece os boletos, as mensagens não respondidas, os “tem que”. Só um minuto. Pra eu sentar. Respirar. Sentir meu próprio corpo sem correria. Ouvir meu pensamento sem ruído. Ficar quieta — sem culpa. Porque tem dias que viver parece atravessar correnteza. E tudo em mim grita por ar. Por pausa. Por um intervalo entre o caos e o próximo compromisso. Então, por favor... Mundo, só um minuto. Eu prometo que volto. Mais inteira. Mais eu.

A cobra (01/07/25)

Essa noite tive um sonho muito marcante. Eu estava no meio de uma plantação, tirando fotos — como se fosse para algo relacionado ao ocultismo, rituais, espiritualidade. Era um lugar com muita água ao redor. Minha família também estava lá. Enquanto isso, acontecia uma apresentação de alguma coisa (não lembro o quê), e ao lado havia uma casinha com computador. Meu irmão estava dentro dessa casinha, jogando, enquanto o restante da família estava do lado de fora. Na água, de repente, começaram a surgir muitas cobras. Eram enormes. E perigosas. Daquelas que engolem a gente inteiro. Toda hora aparecia uma e a gente precisava fugir, espantar, correr. Eu estava conversando com minha prima Ana Flávia, quando, do nada, uma dessas cobras imensas engoliu ela inteira. Fiquei em choque. Peguei a Maria Eduarda pela mão e gritei: “A cobra comeu a Ana Flávia!” Na hora que olhamos, vimos que a cobra estava com vários corpos enrolados. Era assustador. ⸻ 🧠 O Significado Esse sonho, apesar de intenso, tra...

Café com Queijo (25/06/25)

Recebi esse poema como presente… E que presente. Versos que me vestem, me revelam e, de alguma forma, me acolhem. Tem algo de mágico em ser enxergada assim, com tanta leveza e encanto. Palavras que tocam onde o toque não alcança. 🖤