Pular para o conteúdo principal

Abraço (18/10/2007)

Nossos olhos se cruzaram
Em frente à praça

Sob a árvore frondosa

Nos aproximamos

Não sei bem porque, já não me lembro,

Mas nos abraçamos

Numa necessidade tranqüila do toque

Na doce tortura de estar perto

Seu cheiro invadindo meus poros

Seus braços envolvendo-me, quietos

A cabeça num vazio inconstante

Ligada nos poucos movimentos que fazíamos

O roçar de seu rosto no meu rosto

E sua respiração entrecortada por suspiros

Seus dedos desenhavam meus traços

E sua boca seguia esse estreito caminho

Contornando os perigos escondidos

Despertando os tão bem guardados desejos....

As batidas leves do seu coração tranqüilo

Davam o compasso do meu pensamento

E eu nem sei por quanto tempo

Ficamos ali dividindo o abraço

Apertando suaves laços

Nos deixando envolver pelo encantamento.

E perigosamente próximos

Sussurrando palavras sem sentido

Controlando a respiração com suspiros

Entregues aquele abraço quente

Aquele laço nas costas e o carinho

O aperto suave e o sorriso

A doação sem cobrança

E o gemido

Preso na garganta, como um grito.

A pele se aquecendo com a pele

Os suaves sinais de perigo...

E também não sei como nem por que

Nos afastamos

Toda cumplicidade conquistada

Guardamos

Num grande arquivo.

Deixamos esse momento secretamente protegido

Na tranqüilidade de uma noite bem clara

Em uma combinação estranha...

A calma de um velho sábio

E o desejo fervoroso de uma criança...


 

Comentários

Mais Vistas

A falta de controle

Você já parou pra pensar como a vida muda seu curso em um segundo? Do mais absoluto NADA. Um instante antes você está dentro da rotina, acreditando que tem um roteiro em mãos, que sabe a próxima cena. E, de repente, sem aviso, sem preparação: BOOMM! Tudo se desfaz. Você precisa recomeçar, refazer, assimilar… do nada. Um acidente, um adeus, uma doença. Do nada. E é aí que a vida nos revela sua crueldade e sua beleza: ela não pede licença, não dá prévia, não negocia. Ela simplesmente acontece. E, ainda assim, a gente insiste em acreditar que tem controle… e sofre pela ausência dele, como se essa ausência fosse falha, quando na verdade é a regra do jogo. A falta de controle é a lembrança mais cruel e mais bela da existência. Cruel porque nos arranca a ilusão de sermos donos do tempo, dos outros, até de nós mesmos. Bela porque, ao despir-nos dessa ilusão, nos devolve a verdade mais antiga: tudo é instante.  Heráclito já dizia que “ninguém entra duas vezes no mesmo rio, porque as águas ...

Nuances (19/11/2025)

Era só um sopro. Um toque leve, quase tímido, desses que atravessam a pele sem pedir licença. Meu coração ainda andava devagar, como se estivesse tentando decifrar o que viria desse prelúdio doce, quente, que se instalou em mim sem pressa. Aos poucos, o ar mudou. A respiração ficou curta, o corpo começou a entender a linguagem secreta que só a gente fala. Cada centímetro virou gatilho, cada gesto virou centelha. E eu senti… o ritmo subindo como maré, a mente abrindo janelas, portas, mundos. Era informação demais, sensação demais, tudo vindo junto, sem ordem, sem lógica um caos delicioso, urgente, vivo. Como se eu fosse feita só de nervos expostos e desejo pulsando. Até que… de repente… o silêncio. Não um silêncio vazio. Um silêncio que acolhe. Um nada pleno, suspenso, onde a minha alma simplesmente se desprende do corpo e começa a dançar sobre nós. Ali, não tinha pensamento. Não tinha “eu”. Não tinha tempo. Só a explosão. O brilho. A entrega. O cheiro... o nosso cheiro invadindo o ar, ...

Nós (17/11/2025)

a gente é tão diferente e tão igual. Você é sistemático e organizado. Eu sou caótica e impulsiva. Você é contido e controlado. Eu sou uma explosão de fogo e vertigem. Mas a verdade é que dentro de você tem um vulcão,  um calor que cresce e queima tudo. Você é controverso, contraditório…  finge que não quer controlar, mas controla. Finge que não quer queimar e incendeia. E tem esse desejo secreto, nem tão secreto assim, pela minha rendição. E eu, que sempre fui escandalosa, dona de mim… me vejo sendo guiada, tomada, conduzida de um jeito que não me diminui me revela. É tão delicioso que assusta. Porque com você eu relaxo. Eu me rendo. Eu solto o peso do mundo sem culpa. Você me incendeia, me instiga, me tira da rota e ao mesmo tempo é brisa fresca. É clareza. É esse silêncio bom que abraça. É essa sensação de lar que eu achava que nunca mais ia sentir. E eu bagunço. Bagunço sua cama, sua rotina, sua vida meticulosamente dobrada. Te tiro do eixo, te faço sentir,  te faço pu...