Pular para o conteúdo principal

O Mito do Amor Difícil

Ah, Carrie e Big… O casal que nos fez suspirar, torcer, gritar com a TV e, no final das contas, criar um padrão de amor complicado que muitas mulheres ainda romantizam. A história de Carrie Bradshaw e seu eterno vai e vem com Mr. Big, do clássico Sex and the City, é a definição perfeita da romantização do difícil, do inatingível, do cara que sempre está quase lá, mas nunca chega de verdade. Ele aparece, some, volta, fica confuso, vai para Paris, cruza o oceano, e Carrie espera. E espera. E acredita.

Nós, como espectadoras, torcemos por ela, porque foi isso que aprendemos: que o amor vale a pena ser sofrido. Que o cara complicado, que nunca diz claramente o que quer, um dia vai se dar conta do erro e cruzar fronteiras para reconquistar o que deveria ter valorizado desde o início. Mas será que isso realmente deveria ser o nosso ideal de amor?

A história de Carrie e Big perpetua a ideia de que as mulheres precisam suportar. Que o relacionamento difícil é mais real, mais emocionante. Nos ensina a aceitar o jogo do "quase", do "se", do "talvez um dia". E assim, muitas de nós nos acostumamos a viver com expectativas vazias, acreditando que, em algum momento, ele vai finalmente perceber o que estava bem na frente dele o tempo todo: nós. Só que viver dessa forma é um convite para o sofrimento. A verdade, por mais dura que seja, é que não devemos salvar um homem confuso, emocionalmente indisponível, que não sabe o que quer.

O grande problema dessa romantização é que ela nos leva a aceitar relações doentias, onde o vai e vem constante e a falta de clareza se tornam o padrão. Como se fosse normal uma relação se arrastar em uma eterna corda bamba. O final feliz de Carrie e Big é perigoso porque legitima isso. Faz parecer que toda essa dor e espera valeram a pena. Mas quantas de nós não ficamos presas em relacionamentos que nunca nos dão a paz e a segurança que merecemos?

A verdade é que precisamos reinventar o romance. Precisamos de histórias que falem sobre paz, companheirismo, honestidade. Precisamos de homens que sejam claros nos seus sentimentos, que saibam lidar com suas emoções sem joguinhos ou desaparecimentos dramáticos. O amor não deveria ser uma batalha emocional, um vai e vem de incertezas. Ele deveria ser um lugar de descanso, um espaço onde a vulnerabilidade é bem-vinda, e onde o diálogo, o respeito e o cuidado são a base de tudo.

A vida já nos dá desafios suficientes. Lidar com problemas cotidianos, correr atrás dos nossos sonhos, equilibrar nossas responsabilidades… Então, por que deveríamos adicionar um relacionamento complicado à lista? A ideia de que precisamos ser a "cura" para o trauma de um homem perdido é ultrapassada. Você não é um centro de reabilitação para homens emocionalmente indisponíveis. Seu valor não está em esperar pacientemente que ele "acorde" e TE veja. O amor verdadeiro, aquele que realmente vale a pena, não deveria nos deixar exaustas. Ele deveria nos revigorar.

Está na hora de deixarmos de lado as fantasias de que um dia o Sr. Big vai atravessar o oceano porque finalmente percebeu que você é o amor da vida dele. Vamos abraçar relações que sejam sobre reciprocidade, sobre escolhas conscientes, sobre homens e mulheres que querem estar juntos e, principalmente, que estão prontos para isso. Vamos abandonar de vez o mito do amor difícil, porque o verdadeiro amor não é para nos quebrar, e sim para nos construir.

Comentários

Mais Vistas

A falta de controle

Você já parou pra pensar como a vida muda seu curso em um segundo? Do mais absoluto NADA. Um instante antes você está dentro da rotina, acreditando que tem um roteiro em mãos, que sabe a próxima cena. E, de repente, sem aviso, sem preparação: BOOMM! Tudo se desfaz. Você precisa recomeçar, refazer, assimilar… do nada. Um acidente, um adeus, uma doença. Do nada. E é aí que a vida nos revela sua crueldade e sua beleza: ela não pede licença, não dá prévia, não negocia. Ela simplesmente acontece. E, ainda assim, a gente insiste em acreditar que tem controle… e sofre pela ausência dele, como se essa ausência fosse falha, quando na verdade é a regra do jogo. A falta de controle é a lembrança mais cruel e mais bela da existência. Cruel porque nos arranca a ilusão de sermos donos do tempo, dos outros, até de nós mesmos. Bela porque, ao despir-nos dessa ilusão, nos devolve a verdade mais antiga: tudo é instante.  Heráclito já dizia que “ninguém entra duas vezes no mesmo rio, porque as águas ...

Nuances (19/11/2025)

Era só um sopro. Um toque leve, quase tímido, desses que atravessam a pele sem pedir licença. Meu coração ainda andava devagar, como se estivesse tentando decifrar o que viria desse prelúdio doce, quente, que se instalou em mim sem pressa. Aos poucos, o ar mudou. A respiração ficou curta, o corpo começou a entender a linguagem secreta que só a gente fala. Cada centímetro virou gatilho, cada gesto virou centelha. E eu senti… o ritmo subindo como maré, a mente abrindo janelas, portas, mundos. Era informação demais, sensação demais, tudo vindo junto, sem ordem, sem lógica um caos delicioso, urgente, vivo. Como se eu fosse feita só de nervos expostos e desejo pulsando. Até que… de repente… o silêncio. Não um silêncio vazio. Um silêncio que acolhe. Um nada pleno, suspenso, onde a minha alma simplesmente se desprende do corpo e começa a dançar sobre nós. Ali, não tinha pensamento. Não tinha “eu”. Não tinha tempo. Só a explosão. O brilho. A entrega. O cheiro... o nosso cheiro invadindo o ar, ...

Nós (17/11/2025)

a gente é tão diferente e tão igual. Você é sistemático e organizado. Eu sou caótica e impulsiva. Você é contido e controlado. Eu sou uma explosão de fogo e vertigem. Mas a verdade é que dentro de você tem um vulcão,  um calor que cresce e queima tudo. Você é controverso, contraditório…  finge que não quer controlar, mas controla. Finge que não quer queimar e incendeia. E tem esse desejo secreto, nem tão secreto assim, pela minha rendição. E eu, que sempre fui escandalosa, dona de mim… me vejo sendo guiada, tomada, conduzida de um jeito que não me diminui me revela. É tão delicioso que assusta. Porque com você eu relaxo. Eu me rendo. Eu solto o peso do mundo sem culpa. Você me incendeia, me instiga, me tira da rota e ao mesmo tempo é brisa fresca. É clareza. É esse silêncio bom que abraça. É essa sensação de lar que eu achava que nunca mais ia sentir. E eu bagunço. Bagunço sua cama, sua rotina, sua vida meticulosamente dobrada. Te tiro do eixo, te faço sentir,  te faço pu...